Gateiros

domingo, 14 de março de 2010

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Bixanos por Danuza Leão


“De uns 30 dias para cá, entrei num novo universo: o dos adoradores de gatos.

Foi assim: resolvi ter um e procurei saber com um amigo quando haveria uma feira para comprar um lindo filhote etc. e tal. Ele foi logo me dizendo que nada disso, que o melhor gato é o vira-lata, e me deu o telefone de outro amigo, que me deu o telefone de outro amigo, e assim sucessivamente; aí conheci (só por telefone) um grupo de pessoas simpáticas e prestativas, sempre prontas a ajudar com um conselho, uma informação, uma explicação psicológica sobre o comportamento dos gatos, e com as quais me comunico com frequência.

Aprendi que gatos não se compram, se adotam, e são os membros dessa confraria informal que fazem a intermediação entre quem está querendo um e quem está com uma ninhada em casa. E tem mais: como existem lugares na cidade onde os sem nenhum coração abandonam os filhotes, eles costumam ir a esses lugares para recolhê-los e encaminhar para a adoção. A pessoa que me confiou o meu tem 36 em seu apartamento.

Antes de Haroldo -é o nome dele- chegar, fui a uma loja especializada comprar um pequeno enxoval, digamos assim, para recebê-lo. Cheguei em casa com um tipo de banheirinho, areia, caminha, ração para filhote, patê em lata, vasilhas para comida e bebida e brinquedinhos. Embatuquei quando o vendedor me perguntou de que sabor queria a ração: de peru, de galinha, de peixe? Nacional ou importada? E como escolher, sem conhecer seu paladar?

Quando Haroldo chegou, minha vida mudou. Ele não me larga um só minuto, e tirando a hora em que se instala no teclado do computador ou se coloca exatamente entre meus olhos e o jornal ou a televisão, é uma delícia que nem dá para contar. Tão grande que nos primeiros dias eu não conseguia sair de casa para não deixá-lo sozinho. Resultado: agora tenho também uma gatinha (ainda sem nome) no pedaço, para que ele não se sinta muito só na minha ausência. E o pior: estou ficando gagá, e quando saio fico querendo voltar logo para casa, tantas as saudades.

Eles retribuem e me amam de paixão, uma paixão total e incondicional. Os dois são pequenos, me seguem pela casa onde eu for, se enrolam no meu pescoço para dormir -ainda bem que não estamos no verão-, e quando o veterinário disse que seria aconselhável a castração e a esterilização, quase chorei, e telefonei para meus novos amigos para ter uma orientação sobre o assunto.

Sabe o que me disseram, todos? Que é preciso castrar e esterilizar, sim. Mas por que, perguntei, vocês que gostam tanto de gatos, não têm pena?

Exatamente por isso, foi a resposta. Se não for feito um tipo de planejamento familiar, os gatinhos que nascerem serão abandonados nos parques da cidade e vão morrer de frio e de fome. É por amor, por muito amor -e consciência- que é preferível que nasçam menos gatos, já que não existem lares suficientes para adotá-los.

Foi impossível não fazer um paralelo com a infinidade de crianças abandonadas nos sinais de trânsito e nas Febens da vida, sem ter quem cuide delas e a cada ano nascendo mais e mais, algumas de mães de 13, 15 anos, sobretudo no Nordeste, terra do presidente Lula, que conhece o problema melhor do que qualquer um de nós.

Conhece, mas não fala no assunto; nem ele nem uma só pessoa do governo. Por que será?”

E-mail – danuza.leao@uol.com.br

Um comentário:

^.^ Ana Clara ^.^ disse...

Querida, que belo post você coloca aqui. Muito lindo a Danuza nos escreve, não é mesmo? É bem assim mesmo, somente quem convive com gatos é que pode afirmar da paixão que envolve o dono e o bichano. As pessoas só falam da fidelidade dos cães, porque nunca conviveram direto, dentro de casa com um gato. As vezes até os tem, mas lá fora, para "caçar ratos", mas os que de fato os criam, com amor e responsabilidade, dentro do lar, se identificarão com este escrito. Beijos minha querida, tenha um lindo dia junto aos seus.

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